'A vida vem em ondas como o mar'

sábado, agosto 16, 2008 0 comentários


Ouve aquela canção que não toca no rádio



Do árido à miragem, o disco “Maré”, de Adriana Calcanhotto, é pura linguagem. O título, que indica o efeito do mar em movimento, faz recordar o barulho da onda quebrando na beira da praia e as letras remetem o vento nos cabelos. A água do mar é transparente, assim como os sentimentos despertados: o som lembra o cheiro que lembra o gosto que lembra alguém. Haja sinestesia!


O cd parou em minhas mãos por acaso, no finalzinho de maio. Não me empolguei! Até que, passeando pelas ruas de Belém, ouvi “... a uma hora dessas/ por onde passará seu pensamento/ por dentro da minha saia/ ou pelo firmamento?” Os versinhos representavam a minha inquietação, já que eu estava looonge de casa. Achei familiar. Em seguida, resgatei o ‘cedêzinho’ no fundo da gaveta. De lá pra cá, ouço inúmeras e repetidas vezes tais canções:

=> Seu pensamento: “A uma hora dessas/ por onde passará seu pensamento?”

=> Mulher sem razão - parceria de Bebel Gilberto e Cazuza – “Olha bem na minha cara/ E confessa que gostou/ Do meu papo bom/ Do meu jeito são/ Do meu sarro, do meu som”. A exclusividade fica por conta do arranjo dos metais, ninguém mais ninguém menos que Rodrigo Amarante, o caaara! Outro ‘hermano’ que participa do show é o tecladista Bruno Medina. (Viva LH!). A música até virou tema de novela global.

=> Porto Alegre: “Então caí nos braços de Calipso/ eu sucumbi ao encanto de Calipso/ não resisi". Destaque para a levada caribenha. Além disso, há participação de Marisa Monte. Fazendo o quê? Emitindo o som das sereias.

=> Teu nome mais secreto: “Só eu sei teu nome mais secreto// Cavo e extraio estrelas nuas/ De tuas constelações cruas// Só sei que canto de sede dos teus lábios”. A música tem um ‘quê’ de enigmático!

=> Para lá: “... e a montanha insiste em ficar lá/ parada/ para lá/ parada/ parada”. Quanta aliteração ;)

=> Um dia desses: “... meu pobre coração não vale nada/ anda perdido, não tem solução”. Letra de Torquato Neto, o poeta que desfolha a bandeira!

Além disso, “Maré” coleciona textos dos concretistas Ferreira Gullar (Onde andarás?) e Augusto de Campos (Sem saída). E, também, Arnaldo Antunes, o neo-concretista. Imagine o impacto e poder de abstração do eu-lírico!?

Todas as canções emocionam. Mais uma vez vejo o mar voltar como imagem. Im-per-dí-vel!



Ano: 2008 Gênero: MPB Gravadora: NacionalSony & BMG