Só pra lembar!

domingo, agosto 03, 2008 0 comentários

Artistas protestam contra o descaso na cultura
Luta diferente, sem cartazes ou faixas, mas com música, teatro e batida de tambor


A obstrução do prédio da antiga biblioteca municipal não impediu a manifestação


Na sexta-feira, dia 09 de maio, por volta das 17h, artistas, professores, estudantes e lideranças comunitárias protestaram, em frente ao prédio da antiga Biblioteca municipal, próximo a escola Dorgival Pinheiro de Sousa, por políticas públicas voltadas à criação e manutenção da cultura local. Misturaram farra, poética e descontentamento. Essa foi a única manifestação de contrariedade e engajamento para chamar a atenção da sociedade. O povo que passava, parou e ouviu. Nem a chuva atrapalhou. Com a participação da trupe Além da Lona, de Campinas, o público fez arte no pátio da escola Dorgival.

Enquanto isso, no imóvel abandonado, funcionários da prefeitura obstruíam a entrada com tapumes, uma vedação provisória. Alegavam cumprir ordens. Até onde sabiam, o prédio – há quatro anos desativado - passaria por uma reforma. Por conta disso, seria necessário isolá-lo para evitar acidentes. Evasiva para mascarar o desejo de uma minoria despreocupada com o atual desamparo do lugar.

No IV Fórum Municipal de Cultura, que ocorreu nos dias 02 e 03 de maio, no Teatro Ferreira Gullar, a classe artística, que conta com o apoio de 40 entidades, discutiu o sistema municipal de cultura e decidiu, como uma das ações do movimento, ocupar espaços públicos abandonados e transformá-los em pontos culturais. A atitude não se restringe a ocupação. O objetivo é mobilizar a sociedade e movimentar o espaço com organização e planejamento. Ocupar com arte e compromisso.
Os artistas resolveram colocar a público o descaso que a cultura vem sofrendo no governo municipal. A convocação para a manifestação havia sido abertamente disseminada. Nesse ínterim, a prefeitura pronunciou-se sobre a reforma e a retomada da antiga biblioteca, ainda este ano. Sendo que, até então, não havia qualquer projeto a ela destinado. De acordo com o secretário de Educação, Moab César, que nem se encontra na cidade, mas deixou a fala reproduzida, o dinheiro está reservado para ser aplicado nos serviços, aguardando somente o processo licitatório para que as obras sejam iniciadas o mais rápido possível. Inquestionavelmente, a assessoria precavera-se para o protesto.

“O que tem acontecido é de os governos usarem os recursos da cultura para o interesse de poucos. Ou seja, fazem eventos governamentais em que se beneficiam. Enquanto isso, o cinema, o teatro, a música e as letras agonizam,” diz Carlos Leen, aluno do curso de História, na Uema.

Durante o manifesto, uma plenária levantou reflexões e discussões sobre a melhoria e preservação do lugar. Surgiram propostas como a restauração, o aproveitamento do espaço para criações artísticas, apresentações de trabalhos, exibição de filmes. A idéia é resgatar o que foi deteriorado. Segundo Lília Diniz, atriz, escritora e militante cultural, há falta de autonomia e democracia na distribuição de recursos que apenas vão para projetos que dão retorno de mídia ou dividendos políticos. A crítica foi dirigida à Fundação Cultural de Imperatriz, cujas políticas de cultura não dão conta da vida artística que acontece na cidade. “Nós queremos ser ouvidos e participar do processo,“ completa.

No sábado, a ‘liga da limpeza’ realizou o mutirão da vassoura. Muita gente com rodo, sabão em pó, detergente, a fim de higienizar o ambiente, que estava deplorável, colocou a mão na massa. Além disso, fizeram contorcionismo, malabarismo e muita palhaçada.

Com toda certeza, a participação massiva de pessoas comprometidas é de extrema importância para a preservação do patrimônio local e a propagação de uma cultura plural e descentralizada.