ALDA

Alva, do alvor das límpidas geleiras,
Desta ressumbra candidez de aromas…
Parece andar em nichos e redomas
De Virgens medievais que foram freiras.

Alta, feita no talhe das palmeiras,
A coma de ouro, com o cetim das comas,
Branco esplendor de faces e de pomas
Lembra ter asas e asas condoreiras.

Pássaros, astros, cânticos, incensos
Formam-lhe aureoles, sóis, nimbos imensos
Em torno a carne virginal e rara.

Alda fez meditar nas monjas alvas,
Salvas do Vicio e do Pecado salvas,
Amortalhadas na pureza clara.



Soneto publicado em “Broquéis”, de Cruz e Sousa*, obra que inaugura o Simbolismo no Brasil, em agosto de 1893.

João da Cruz e Sousa nasceu em Desterro, atual Florianópolis. Filho de escravos alforriados foi acolhido pelo Marechal Guilherme de Sousa e sua esposa como o filho que não tinham. Foi educado na melhor escola secundária da região, mas com a morte dos protetores foi obrigado a largar os estudos e trabalhar. Sofreu uma série de perseguições raciais, culminando com a proibição de assumir o cargo de promotor público em Laguna, por ser negro. Em 1890 foi para o Rio de Janeiro, onde entrou em contato com a poesia simbolista francesa e seus admiradores cariocas. Casou-se com Gavita, também negra, com quem teve quatro filhos. Sua mulher enlouqueceu e passou vários períodos em hospitais psiquiátricos. O poeta morreu aos 36 anos de idade, vítima da tuberculose, da pobreza e, principalmente, do racismo e da incompreensão.
Alguns estudiosos da vida e obra do poeta acreditam que Alda fora o seu grande amor!

1 Comment

  1. Fernando Ralfer On 1 de agosto de 2008 às 21:46

    Que lindo hahaha! *-*
    Só porque o título do poema é leva seu nome né?

    =*