terça-feira, agosto 05, 2008 0 comentários

Senhoras e Senhores: Respeitável Público


Acabei de assistir ao espetáculo do Circo Popular do Brasil. São 23h10. Crianças no colo dos pais, umas dormindo, outras ainda eufóricas, se despedem com um lindo sorriso de adeus. A arquibancada esvaziando. Os espectadores retornam às suas casas, os artistas recolhem-se em seus aposentos. Boa Noite. Até a próxima.

Com a lona esticada na Beira Rio há três semanas, um letreiro luminoso anuncia: Marcos Frota Circo Show. O relógio marca 20h30, 26°. No estacionamento, “palhaços flanelinhas” sorridentes. Deparei-me com um senhor de chapéu e botas pretas cantando “Lay Lady Lay”, de Bob Dylan. Troquei duas palavras com o Dylan latino. Tempo suficiente pra ele me empurrar um de seus cd´s, desembolsei R$ 5. Sentei ao lado de crianças que chantageavam os pais para comprarem bugigangas circenses.

Que rufem os tambores! Uma voz nos recepciona e adverte: - Proibido fumar e proibido filmar sem autorização prévia. O circo apresenta diversas artes: malabarismo, palhaço, acrobacia, equilibrismo e magia. Há influência de outras linguagens artísticas como a dança e o teatro. Feitos fantásticos realizados por quase heróis.

O garoto se equilibra em uma bicicleta arrancando poucos aplausos da platéia, ainda tímida. Em seguida, uma música instrumental acompanha os passos leves e sutis da menina que se enrola num tecido cor de rosa preso ao teto, parecendo uma serpente. Ela despenca lá do alto, parando a poucos centímetros do chão. Os artistas usam uniformes e máscaras que escondem a verdadeira identidade, dignas de heróis, mas eles são de carne e osso. Um suspense paira no ar. O Mágico aparece numa cena cheia de efeitos. Vestindo capa preta, cabelos embebidos em gel e óculos escuros dando um tom de mistério, parecendo o “Homem-Morcego”. Sua assistente convida alguém da platéia para participar do número. Há uma certa resistência, mas uma garota acaba aceitando. Ele atravessa o pescoço da convidada com uma espada. A mágica causa mais riso que espanto. Os palhaços invadem a arena entusiasmando com “Festa no apê”. As crianças no gargarejo sabem a letra de cor. Um deles, o Batatinha, traja o figurino da principal personagem de Charlie Chaplin, o “Vagabundo”. O trapezista rodopia dando giros no ar. A luz projeta sua sombra na cortina vermelha brilhante. Ele parece um menino feliz, livre e despreocupado. Recorda “Peter Pan”. Em seguida, um rapaz com uma capa vermelha e os músculos de fora sobrevoa a platéia preso a um cabo de aço, “Super-Homem”. Enquanto uma mulher vestida de odalisca requebra seus quadris e atrai todos os olhares, assistentes entram e saem carregando equipamentos, camuflando-se na escuridão da cochia. Logo após, o casal Jorge e Mirian demonstra concentração nos malabares com fogo. São aclamados! Entra um humorista baixinho, “Bobo da Corte”, não convence muito. A platéia fica indiferente. Homens seminus apresentam uma coreografia com tochas, reverenciando uma mulher que simultaneamente faz contorcionismo. Um forró do saudoso Gonzagão dá vida às travessuras da boneca de pano colorida e retalhada (que não é a Emília de Lobato), parece a “Mulher-Elástico”. O equilibrista completa dois giros de 360° a 6m de altura. A descida por uma corda é triunfante, como o “Tarzan”. Uma partida de futebol é simulada na cama elástica. Um dos jogadores, saltitante como a Daiane dos Santos, dá um duplo twist carpado. O naufrágio do Titanic anuncia o intervalo.Tempo para preparar a arena.

Ao som de Beatriz, de Chico Buarque, a bailarina de branco desliza sobre o palco e os trapezistas se aquecem. Eles usam malha branca com uma estrela vermelha. A mulher-trapezista deixa a platéia boquiaberta, parece ter super poderes. Remete a “Mulher-Maravilha”. Marcos Frota narra a tradição e a história do circo. Parafraseando a Oração de São Francisco, ajoelha-se e beija o picadeiro. Canta e dança a música tema do seu último personagem na telenovela global das oito, o Jatobá. “Estou guardando o que há de bom em mim...”. Cai a luz. O breu leva ao choro, muitos soluços e crianças amedrontadas. O palhaço num terno cor de rosa interpreta “Ne me quitte pas”, de Jacque Brèl, num cenário que lembra um cabaré parisiense do século passado. Sua perfomance afeminada arranca muitos sorrisos. O maestro toca saxofone ao vivo. Marcos Frota, embaixador do circo, entra com a bandeira nacional, coisa bonita de se ver. Cantando Nossa Senhora ele faz um apelo para que o respeitável público prestigie o circo e não deixe essa arte morrer. O final frenético ao som de “Dancin´g Days” traz os artistas de volta ao palco. Momento marcante do espetáculo. Eles são ovacionados!