A vida, tornada filme, torna-se também espetáculo

“Registamos os fatos para mudar a história” (Gabriel Garcia Marques)

Ônibus 174 é o documentário que reconstitui o sequestro na zona sul do Rio de Janeiro, na tarde do dia 12 de junho de 2000. O incidente foi filmado e transmitido ao vivo por quatro horas, chocando o país. O drama terminou com a morte de Sandro Nascimento, o bandido, e de uma de suas vítimas, Geísa.

O documentarista faz uma reportagem aprofundada sobre a vida do ex-menino de rua. A contextualização da historia do bandido faz com que o “EUspectador” minimize a culpa de Sandro. A biografia do garoto é excludente. Ele testemunhou o assassinato da mãe quando criança, foi morar na rua e sobreviveu à chacina da Candelária. Era analfabeto, roubava para comprar drogas, passou por algumas cadeias e seu maior desejo era se tornar famoso. Diante essa falta de perspectivas, acreditava que só através do reconhecimento poderia alcançar um objetivo. A celebridade instantânea trouxe-lhe a visibilidade tão desejada. Já que, desde criança, fora mais um na multidão. Junto aos flashs, ódio, rancor, desespero e morte. "Se Sandro fosse um personagem de ficção não teria sido tão bem inventado." (Luiz Zanin Oricchio)

A espetacularização do episódio pelos veículos de comunicação e a repetição sensacionalista das mesmas imagens captadas pelas emissoras ‘ao vivo’ revela o show da crueldade.

Ficha Técnica
Ônibus 174
Direção: José Padilha
Produção: José Padilha e Marcos Prado
Fotografia: César Moraes e Marcelo Guru
Tempo de Duração: 133 min
Lançamento: 2002