(No Man's Land, 2001)
- Direção, roteiro e música: Danis Tanovic
- Gênero: Drama
- Fotografia: Walther Vanden Ende
- Duração: 98 minutos
- Elenco: Branko Djuric, René Bitorajac, Filip Sovagovic, Simon Callow, Katrin Cartlidge, entre outros.
Terra de ninguém: entre as duas linhas
“Na terra de ninguém eu vi duas pessoas jogando xadrez. Eu vi um bispo e a rainha tentando um xeque mate na frentre do rei, onde a prosperidade e a pobreza são apenas um meio de se conseguir mais riqueza. Xeque mate! Na terra de ninguém...” (Terra de ninguém, Banda Catedral)
- A obra fílmica “Terra de ninguém”, de Danis Tanovic, conta com poucos personagens que representam as principais partes envolvidas na Guerra da Bósnia: os sérvios, bósnios, a ONU e a imprensa. A representação das cenas e personagens é realista, como se o filme estivesse apenas captando fatos. Em alguns instantes, o diretor recorre à documentação feita na época do conflito com os efeitos legítimos da guerra: casas queimadas, flagelo, ataques, mortes, etc. Fazendo recortes entre o real e a sua representação. Enfatiza detalhes do campo de batalha. Ainda assim, há cenas com certo teor humorístico.
- No início do filme, há a aparição do QG dos sérvios, onde o general seleciona quem irá inspecionar a trincheira central. São escolhidos dois soldados, ambos carecas. Um deles é mais velho, sua calvície indica experiência e habilidade adquirida ao longo do tempo. O outro, é novato, não tem prática na arte da guerra. O mais experiente é morto na trincheira. Ao ser revistado, o soldado inimigo encontra a fotografia de um homem nu em seu bolso. De maneira que o homossexualismo, ainda que abafado e reprimido nos quartéis, era algo presente.
- Na barricada sérvia, há um oficial instalado em confortável mansão, ouvindo o garoto tocar acordeom, distante do front de guerra onde seus subordinados estão plantados. Já na barricada bósnia, os soldados entram em contato com a ONU e pedem ajuda.
- Os figurinos escancaram a temática da guerra, roupas sujas, malvistas, imundas, mas resistentes. Com alguns detalhes, como a camiseta dos Stones usada por Tchiki e o tênis de lona All Star, demonstrando uma sociedade de consumo, com enfoque particular nas desigualdades do sistema. O uniforme, a farda, que caracteriza cada soldado com seu exército é padronizado. O uso da camiseta é uma particularidade que diferencia o soldado bósnio dos demais.
- O cenário é marcado pelo caráter pitoresco da trincheira. O panorama apresentado mostra a área que não se encontra sob o comando de nenhum dos governos, ainda assim, indica uma relação entre os mesmos, já que dois soldados inimigos encontram-se refugiados nela. A paisagem é a defesa da hostilidade dos inimigos. Os planos selecionados e os ângulos utilizam uma linha de conduta em que não se privilegia nem sérvios nem bósnios. Todos são culpados, todos são vítimas. O tempo é marcado por momentos contrastantes. Ora momentos de tensão, ora descanso. Ora acelera ora desacelera. O período é condicionado de acordo com o espírito dos soldados presos na trincheira.
- A continuidade das cenas mantém a mesma intensidade de luz, o mesmo figurino, mesmo local. Há, portanto, um criterioso tratamento na passagem de uma cena para outra. Os planos intensificam a emoção das personagens, havendo uma comoção do público. Todos os enquadramentos transmitem a idéia de que estão no mesmo lugar, na trincheira, na terra de ninguém. O som e a imagem estão sincronizados. Por fim, a interpretação dos atores nos faz acreditar na veracidade dos acontecimentos. A posição das câmeras indica a proximidade da platéia com os fatos, numa ilusão de contato direto. As falas e os gestos se aproximam das reações dos beligerantes. Tais elementos projetados são oferecidos ao espectador de maneira interligada compondo o quadro da narrativa.
- Na maior parte do tempo, o sol intenso do verão ilumina as cenas, enfatizando o dia em que aconteceu os fatos. Aquele dia é uma data especial. O azul do céu é o firmamento, atmosfera superior que remete à neutralidade. No alto, não há guerras, na abóbada celeste encontramos a felicidade. A luz esclarece os acontecimentos, tornando visível a personalidade de cada um. A noite é a escuridão, a neblina é triste, sombria e obscura. Suscitando o caráter dos homens que vai da sensatez à loucura.
- A unidade dramática é o final do filme. O soldado bósnio Cero sobre a mina que não foi desativada pelo perito alemão. A câmera vem de baixo pra cima, misturando a terra e o céu na noite estrelada. A noite é pesada, fria, o tempo passa devagar. O soldado ficaria de vigília por toda a noite, pois não haveria socorro.
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