Toda segunda-feira, às 19h, pontualmente, o Teatro Ferreira Gullar abre as portas para a exibição de sessões de cinema. Desde 2001, o Projeto Cinema no Teatro apresenta obras fílmicas que não são facilmente encontradas nas locadoras ou na única sala de cinema da cidade. Clássicos, filmes que estão fora do circuito comercial, produções locais, produções alternativas, filmes nacionais, etc. A variedade de temas escolhidos pode ser entendida como um meio de democratizar o acesso à Sétima Arte. No entanto, engana-se quem pensa que o filme é a única atração da noite. O xou começa quando o técnico do teatro acende as luzes... É hora do debate!
Um convite à reflexão, o debate possibilita a expressão de diferentes pensamentos no mesmo lugar. Há quem se identifique com a trama, há quem rejeite as personagens, há quem se encante com o enredo. Uns falam, outros escutam. Os papéis se invertem a todo momento. Os participantes que têm técnica, conhecimento, gosto apurado contracenam com os que mal sabem pronunciar o nome de tal diretor: “Kieślowskio o quê?” O Cinema no Teatro garante a manifestação de pensamento e a pluralidade de vozes.
Também é possível observar que, no decorrer dos anos, o público se ampliou. Não só em quantidade, mas em representatividade. As poltronas já não são mais ocupadas pelos cinéfilos, cults, cdf´s e os que estampam a estrela de Guevara. É cada vez mais notória a presença de católicos, protestantes, ateus, socialistas, neo-liberalistas, anarquistas, apartidários e à-toas. Gente com noção. Gente sem noção. E o mais importante, todos cheio de argumentos, numa linguagem acessível, onde é aceitável a informalidade e o uso de gírias.
O filme possibilita autoconhecimento. Godard, Buñuel, Fellini até Carlos Henrique Brandão são minuciosamente apreciados e analisados. Os espectadores lançam olhares sobre amizade, amor, paixão, separações, drama familiar e rupturas que fazem parte da trajetória humana. Questões políticas, sociais, econômicas são relacionadas à vivências individuais. As opiniões revelam o processo de catarse de quem fala. Dessa forma, a riqueza é não existir ponto central no debate. Na discussão há prós e contras, mas não há vencedores nem vencidos.
E não pára por aí, a organização do cineclube utiliza as redes sociais como mecanismos de promoção e participação popular. Para dar continuidade ao debate e ampliar a participação daqueles que ainda não se sentem tão à vontade para falar, mas conseguem escrever em 140 ou mil caracteres, os perfis no Twitter, Blogspot e Orkut podem ser facilmente encontrados. Tem espaço para todos. Por essas e outras, o Projeto Cinema no Teatro merece aplausos e um grito de Bravo!